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"Não babam olhos por diamantes ignotos, mas, com prazer, relustram-se as joias de renome". Fred Rocha

Mal Secreto

  • Fred Rocha
  • 19 de jun. de 2017
  • 2 min de leitura

Você já deve ter notado aquela namorada ou namorado, amigo ou amiga, enfim, algum parente ou conhecido que vive postando as mais banais “bem-aventuranças” no Facebook e afins; certo?

Eles não se eximem e nem nos poupam do seu mais novo look, carro, unha, festa ou balada, do cabelo ou da make, e nem dos músculos inda recém-inchados do seu “treino” mais recente... Sequer daquele dispensável rótulo de cerveja (ou seja lá de qual bebida) e até do prato que, – ao que tudo indica –, bem mais lhes apetece postar a sua foto inda “fresquinha” do que vir a comê-lo, propriamente...!

E nem entremos no mérito (ou demérito), por um lado, das execráveis “correntes da falsa piedade”, e, por outro, dos “injuriadores cibernéticos”. Não... estes não merecem nem a menção. Pois, bem... parece até piada, mas não é. Este é o retrato vivo da nossa atual sociedade, onde se dá mais valor às aparências do que à própria factível realidade.

Quatro coisas emolduram e compõem tal retrato: a vaidade, a falsidade, o despeito e a indiferença. E assim muitos seguem vivendo de vãos sorrisos falseados, quando não “imprescindíveis”, ou de recorrentes indiretas... É lá uma espécie de, digamos, Faceblefe. E entra aí também o “danessismo”, filosofia de vida na qual o outro ou nada importa a ninguém! E todos são tomados como não sendo mais do que contatos deletáveis...

É algo quase patológico, – senão, de fato, o é –, essa necessidade de se mostrar sempre “bem” e “bem-sucedido”. Ninguém chora ou fracassa ou adoece; tudo é prêmio, êxito e sorriso: um “castelo erigido sobre a rocha”... E não que eu queira “fazer mídia da derrota”, tampouco todos padeçam deste mal, no entanto, quem irá compartilhar as suas dores e lhe dará uma “mãozinha” frente à queda...? Mas como disse o poeta Raimundo Correia, em seu magistral soneto “Mal secreto” (e o que é talvez o que melhor há neste post):

“Se a cólera que espuma, a dor que mora

N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,

Tudo o que punge, tudo o que devora

O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora

Ver através da máscara da face,

Quanta gente, talvez, que inveja agora

Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo

Guarda um atroz, recôndito inimigo,

Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,

Cuja a ventura única consiste

Em parecer aos outros venturosa!”

Quando já não mais restarem as aparências, o que sobrará, de resto, é a essência...

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