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"Não babam olhos por diamantes ignotos, mas, com prazer, relustram-se as joias de renome". Fred Rocha

Texto e Contexto

  • Fred Rocha
  • 28 de jun. de 2016
  • 3 min de leitura

Faremos hoje um breve comparativo entre textos e textos, deixando clara a distinção entre um e outro, tendo em vista o seu contexto e a função que cada qual exerce dentro de seu próprio veículo. Pois é certo que um texto poético não desempenha o papel d’um jornalístico, e assim como o texto informativo não faz a vez do literário. E, bom, para isto usaremos como “mote” um exemplo simples e muito corriqueiro:

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Pela manhã, Paulo vai à padaria comprar pães.

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Texto informativo ou jornalístico: Por volta das 6h da manhã, Paulo se dirigiu à padaria mais próxima, onde costumeiramente compra pães”.

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*No texto jornalístico ou informativo – predomina a concisão e a clareza textual, além da correção gramatical, sobretudo com foco na informação que se pretenda transmitir.

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Texto poético:Mal desponta no Oriente o Sol faminto, | Com o suor do próprio rosto – vinho tinto | da voraz labuta e sua dor renhida – | Paulo ceia do mundano pão da lida…

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*No texto poético – é evidente o emprego do ritmo, rima e melodia, a mor riqueza vocabular e, igualmente, da figura de linguagem; no caso, a:

  • metagoge: em “Sol faminto”, “voraz labuta”, “dor renhida”;

  • metáfora: em “Mal desponta no Oriente o Sol…” (referindo-se ao amanhecer, e o que pode ser também tomado como metonímia), “Com o suor do próprio rosto – vinho tinto” (referindo-se à paga e ao esforço do trabalho), “vinho tinto” (em lugar de sangue), “… ceia do mundano pão da lida” (alusão à Ceia cristã e ao pão da vida);

  • hipérbole: em “voraz labuta” e “dor renhida” – a hipérbole é empregada como acentuação lírica ou dramática, por meio da ênfase ou da exageração; o que também pode, em certo sentido, ser atribuído a “vinho tinto”: onde a ideia de sangue está diretamente associada ao suor vertido na labuta.

Texto narrativo ou em prosa:Eram as primeiras horas da manhã; S. Pedro renegara o mestre havia pouco. E o nosso Paulo, – que não era nem apóstolo nem santo –, salta cama afora estremunhado. Senão surdo de fome, cego ao menos, despertou-lhe os ganidos do estômago, que sôfrego de pães ou de migalhas, arrastou-o à padaria qual um cão-guia”.

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Ou ainda, como querem os minimalistas: “Coercitivamente, a fome matinal conduziu o esfaimado Paulo à padaria”.

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*Na prosa ou texto narrativo – se destacam, além também da correção gramatical, o esmero no trato com a palavra; e o que se acha, especialmente, na poesia. São muitos os recursos literários aos quais o autor pode recorrer para e ao longo da feitura de seu texto, e bem como são plurais os gêneros literários. Nos casos acima, encontramos:

  • alusão: em “S. Pedro renegara o mestre havia pouco” (aludindo a um só tempo ao discípulo e ao episódio evangélico e às primeiras horas da manhã), “Paulo” (aludindo, aqui, ao apóstolo S. Paulo);

  • antítese e ironia: “o nosso Paulo, – que não era nem apóstolo nem santo”;

  • metáfora: “Senão surdo de fome, cego ao menos…”, “despertou-lhe os ganidos do estômago, (…) arrastou-o à padaria”;

  • comparação ou símile: “qual um cão-guia”;

  • metagoge: “os ganidos do estômago”, “arrastou-o (o estômago) à padaria”, “Coercitivamente, a fome matinal conduziu”.

Ao meu ver, – e o que não é uma regra –, para que se configure, de fato, um texto literário, é preciso que evoque (independentemente do seu gênero) u’a maior profundidade contextual, partindo do denotativo ao mais do conotativo (ou permeando-lhes); levando assim o leitor a não somente imaginar, mas igualmente a sentir, pensar e a refletir posteriormente sobre o que apreendeu e pode ainda apreender do mesmo texto. Deve ele, na melhor hipótese, ser um agente transformador ou provocador. Demais que, num texto literário, a beleza estética é imprescindível, – o que em verdade o diferencia dos demais –, e sob pena de torná-lo em não mais que um texto qualquer.

Isto é o que veio se perdendo ao longo dos anos e dos anais dos afamados best-sellers: quando então o conceito de Literatura (de arte literária e boa leitura) fora sendo convertido (e subvertido) na ideia e no preceito de que aquela se resume tão-somente à narrativa, e o que é pior: ao mais vendido, ao populacho e ao vulgar. Porém, cá entre nós, – mal comparando –, Bach vende, ainda hoje, – e tão mais hoje –, extraordinariamente menos que qualquer artista midiático; mas todos nós sabemos que, à parte cifras e vendagens e o “glamour”, esta “constelação d’artistas”, reunida, jamais chegará a um quinto apenas do seu brilho. Em outras palavras. não se compara uma Adele a uma Aretha…

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